Em 22 de setembro de 2018, na Escola Estadual Maria Carrara em Pedra Dourada, registramos o belíssimo trabalho realizado do Projeto FURTA COR e novamente parabenizamos à toda equipe por mais esse destaque recebido pelo projeto na página da Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais. Especialmente à Professora Amanda Carvalho e a todos os envolvidos.
Confiram, clicando no link a seguir a publicação do Éocombatente e logo após o destaque da SEEMG.
Escola Estadual Maria Carrara em Pedra Dourada realizou grandiosíssimo evento UBUNTU - FESTIVAL DA CULTURA AFRO - PROJETO FURTA COR nesse sábado.
“Que a raça não nos defina e o preconceito não nos limite”
Projeto teve objetivo de combater o racismo e valorizar a cultura negra. Foto: Arquivo/Escola |
Projeto de iniciação científica em escola de Pedra Dourada, na Zona da Mata, aborda o preconceito racial e a valorização da cultura negra. O trabalho estimulou a estudante Izabela Saar a buscar no curso de Direito o caminho para atuar contra o racismo
Furta-cor: no dicionário é uma cor cambiante, de tonalidade alterada conforme a luz que se projeta sobre ela. Por conta desta definição, que sugere a transição e reflexão de vários tons e cores em uma só, este foi o nome escolhido para intitular o projeto que busca valorizar a cultura negra e combater o racismo, desenvolvido na Escola Estadual Maria da Conceição Gonçalves Carrara, em Pedra Dourada, na Zona da Mata mineira.
O “Furta-cor” tem como lema “Que a raça não nos defina e o preconceito não nos limite” e é um dos projetos integrantes do Núcleo de Pesquisas e Estudos Africanos e Afrodescentes e da Diáspora (Ubuntu/Nupeaas), vinculado ao Programa de Iniciação Científica da SEE. O trabalho, desenvolvido para mostrar à comunidade escolar que o que importa é o respeito ao outro independente da cor, fez com que a jovem Izabela Saar, de 18 anos, ficasse ainda mais animada a estudar Direito, curso que escolheu no 2º ano do ensino médio.
“Com todo o conhecimento adquirido durante o Furta-cor, além de aprender muito sobre a importância de se colocar no lugar do outro, sobre igualdade e respeito às diferenças, comecei a perceber que a representatividade negra na área do Direito, pelo menos no Brasil, não é significativa. Então entrei para a universidade e vou aumentar esse número”, disse. A jovem universitária está matriculada em Direito na Rede de Ensino Doctum, no município mineiro de Carangola, e já se diz apaixonada pelo curso.
“Eu fiquei muito feliz e minha família também. Além de poder cursar o que eu escolhi, também era o sonho do meu avô, que foi presidente do sindicato dos trabalhadores e queria muito estudar para defender melhor as pessoas. Eu me sinto muito privilegiada por estar onde estou agora, principalmente porque minha família é humilde e meu pai, por exemplo, não teve condições de estudar. Acho que por isso ele e minha mãe, que se forma agora como técnica em enfermagem, sempre me incentivaram a estudar para ter um futuro promissor”, conta.
O incentivo dos pais vem praticamente de berço. Izabela conta que é dedicada aos estudos desde criança e também foi muito presente nas atividades das escolas públicas em que sempre estudou: teatro, dança, concurso de soletração, feira de ciências, entre várias outras. Quando surgiu o convite para participar do projeto “Furta-cor” não foi diferente. Izabela aceitou de prontidão, mesmo sem saber o que viria pela frente.
“Eu sempre fui interessada por questões raciais, até porque sou negra, minha mãe e avó são negras, e isso foi ainda mais um motivo. Quando entrei para o grupo, ainda no final de 2017, que foi quando enviamos o projeto para aprovação, nem imaginava a repercussão que ia dar e a transformação pela qual eu ia passar. Hoje, tudo que aprendi me ajuda, inclusive, na faculdade, porque sempre surgem assuntos sobre racismo e preconceito e me sinto muito mais preparada para falar sobre isso com os colegas e professores”, explica.
O engajamento de Izabela e dos outros sete colegas que compuseram o grupo de pesquisa os levou a uma abordagem que norteou os estudos: “a cor que há em mim reflete a cor que há em você”. A estudante de Direito explica que, baseados nisso, o projeto iniciou uma revolução na escola.
“Percebemos que para buscar um mundo livre de preconceitos, a gente tinha que primeiro mudar isso na nossa cabeça, das pessoas do próprio grupo. Durante todas as conversas, encontros, palestras, tantas histórias tristes de pessoas que sofrem preconceito, conseguimos nos livrar dos nossos racismos e passar isso para o resto da escola e da comunidade com muita propriedade. No fim do projeto, o que mais ficou foi o aprendizado de procurar entender o que está no outro, compadecer de suas dores, comemorar suas alegrias, independente da cor que se reflete”, finalizou.
Quanto à sua carreira na área do Direito, Izabela ainda não decidiu o que vai escolher. Mas conta que já tem uma direção a ser seguida na vida acadêmica e também profissional: dedicar-se a projetos de combate ao racismo e a qualquer tipo de preconceito.
O projeto Furta-Cor
A professora orientadora do Furta-Cor, Amanda Carvalho, explica que a ideia do projeto, inicialmente, era trabalhar a conscientização sobre o preconceito racial na comunidade escolar. No entanto, após a formação que os educadores receberam em Belo Horizonte, ela conta que enxergou a necessidade de ir além da reflexão.
“Durante os cursos tive acesso a tantos relatos impactantes que, ao voltar para a escola e observar a realidade sob as perspectivas que aprendi, vi que o projeto tinha que ser conduzido não só pelo combate ao preconceito e pela reflexão sobre ele, mas também pela representatividade dos negros e negras para mostrar o seu valor e que todos somos iguais. Houve uma excelente repercussão na escola e todos entenderam a mensagem que o Furta-Cor quis passar”, diz Amanda.
O projeto Furta-Cor envolveu rodas de discussão, reunião entre pequenos e grandes grupos, aplicação de questionários, visitas a pontos turísticos da cidade, trabalho de campo em locais que antigamente eram separados para negros e brancos e a elaboração do artigo final.
“Tudo foi feito com muito cuidado para que os alunos refletissem sobre suas origens, seus orgulhos, sua cor, sua identidade, sobre a real significação de ser de uma cor ou de outra, até porque a questão da própria identificação como negro ou negra é algo complicado para algumas pessoas. Com isso, aos poucos, todos iam se percebendo mais, reconhecendo-se como iguais cada vez mais e dando valor a eles mesmos e aos outros colegas”, explica a professora orientadora.
A conclusão do projeto aconteceu no Festival da Cultura Afro, que contou com danças, culinária, palestras, mostras e histórias de personalidades negras, entre outros. “Foi uma grande festa. No final tivemos um momento de união e confraternização muito emocionante, em que tivemos a oportunidade de olhar uns nos olhos dos outros para nos reconhecermos nas pessoas que enxergávamos”, afirma Amanda.
O resultado, segundo a professora, foi percebido de várias formas. Ela ouviu relatos emocionantes como o de uma aluna que a procurou para contar que o projeto a ajudou a ter coragem para soltar e aceitar o seu cabelo. Um outro aluno, trabalhador rural, começou a escrever poemas. “São frutos que parecem pequenos, mas que mudam a vida das pessoas, porque sementes de amor, de possibilidades de vencer na vida e de encorajamento foram plantadas”, diz a professora.
Iniciação Científica e Ubuntu/Nupeaas
O Programa de Iniciação Científica no Ensino Médio leva a experiência de pesquisa e extensão a estudantes e professores de instituições de ensino estaduais de todas as 47 Superintendências Regionais de Ensino (SREs). A ideia é incentivar, apoiar, valorizar e dar visibilidade à produção e compartilhamento de conhecimentos e saberes, a partir do ensino e da aplicação de metodologias de pesquisa científica no Ensino Médio, oportunizando aos estudantes e professores a identificação de problemas, da escola ou da comunidade, e a construção coletiva de soluções para resolvê-los ou minimizá-los.
O programa está estruturado em dois eixos, sendo um deles o “Núcleo de Pesquisas e Estudos Africanos, Afro-brasileiros e da Diáspora” (Ubuntu/Nupeaas), que tem como enfoque a promoção da igualdade racial pautada no reconhecimento da diversidade como elemento preponderante para o desenvolvimento escolar. Foram selecionados 94 projetos para integrar o eixo Ubuntu/Nupeaas, que é realizado em parceria com a Fundação de Apoio à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) e Ação Educativa.
O outro eixo, Territórios de Iniciação Científica (TICs), estimula estudantes e professores a identificar problemas, da escola ou da comunidade, com a construção coletiva de soluções para resolvê-los ou minimizá-los por meio de Coletivos de Pesquisa nas escolas. Os projetos são distribuídos nas áreas de conhecimento Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Matemática e suas Tecnologias; Ciências Humanas e suas Tecnologias e Linguagens e Códigos e suas Tecnologias. Em 2018 foram criados 33 Coletivos de Pesquisa e Iniciação Científica e foi realizado um encontro estadual de apresentação dos projetos de pesquisa.
Fonte: http://www2.educacao.mg.gov.br/component/gmg/story/10287-que-a-raca-nao-nos-defina-e-o-preconceito-nao-nos-limite?fbclid=IwAR30AMRVM8U5bo1_oiri8BGm-uCpUR6ngxBgG6Lsu2dSRpSoSWesGdmylT0
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