quarta-feira, 15 de maio de 2019

Professora Amanda Carvalho vibra e comemora. Projeto "Furtacor" é mais uma vez destaque pela Secretaria de Estado de Educação.

A Professora Amanda Carvalho em sua rede social vibra e comemora. Todos nós juntos com ela vibramos e comemoramos. Assim ela descreve:

Mais uma matéria linda da Secretaria de Educação sobre o Furta-cor, projeto que tive a honra de orientar na Escola Estadual Maria Carrara. Emocionada! 💕


A universitária Irineia Maria de Jesus Costa vai realizar o sonho de ser professora. Foto: Monique BentoUma realidade de superação que abre caminhos para viver um sonho

Vencer o próprio preconceito foi um dos passos importantes para a estudante que está na universidade para se formar como professora
O sonho de ser professora está encaminhado para se tornar realidade na vida de Irineia Maria de Jesus Costa, de 18 anos, que estuda Geografia na Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). No entanto, a rotina que a jovem universitária vive hoje era inimaginável para ela há muito pouco tempo, mais precisamente até o início de 2018, quando cursou o 3º ano do ensino médio na Escola Estadual Maria da Conceição Gonçalves Carrara, no município de Pedra Dourada, na Zona da Mata mineira.
O que mudou o olhar da futura professora e a fez perceber que ela realmente podia seguir em frente para fazer seu sonho se tornar real tem nome e lema: “Furtacor: a cor que há em mim reflete a cor que há em você”. Essa é a denominação do projeto da escola que fez parte do Programa de Iniciação Científica da Secretaria de Estado de Educação (SEE) por meio do Núcleo de Pesquisas e Estudos Africanos, Afro-brasileiros e da Diáspora (Ubuntu/Nupeaas).
O Furtacor, idealizado e orientado pela professora Amanda Carvalho, reuniu um grupo de oito estudantes do 3º ano do ensino médio para executar o projeto de pesquisa cujo objetivo era valorizar a cultura negra e combater o racismo no ambiente escolar e na comunidade à qual pertencia a instituição de ensino. No entanto, Irineia não participou do grupo, e o motivo, segundo ela mesma diz, era o seu próprio preconceito.
“Não tive vontade de participar porque sempre escutava que essas atividades de consciência negra existiam para nos humilhar e nos expor. Sempre achei que isso tinha que acontecer de forma natural. Na verdade nunca entendi o porquê de existir racismo. Mas o projeto mudou minha visão, despertou minha consciência, fez com que eu enxergasse que várias limitações era eu mesma quem me colocava. Vi que eu tinha preconceitos raciais e então percebi que falar sobre isso é realmente necessário”, disse Irineia.
A estudante, que sempre respeitou os professores, almeja ser educadora para ter mais propriedade para ajudar jovens que passam pelo que ela passou. Ela conta que durante o ensino fundamental e o primeiro ano do ensino médio sofreu bullying, “o que a fez ser quem ela não era durante um certo tempo”.
“Cheguei a alisar os meus cabelos e a emagrecer muito com dietas malucas. Fiquei muito triste, muito mesmo, quando vi que estava tentando ser quem eu não era. Tudo por causa do bullying. Evitava sair da sala durante os recreios e quando os professores chegavam eu rezava para que eles dessem matéria o tempo todo para que os colegas não falassem comigo. Isso só amenizou no segundo ano do ensino médio”, diz a jovem universitária.
Hoje, Irineia estuda para ser uma profissional com quem estudantes que se sentem rejeitados possam contar. “Sempre quis ajudar outros alunos, outras crianças a enfrentar os problemas pelos quais passei. Quero ser uma professora que chega perto daquele estudante que está sempre sozinho para dizer que ele tem com quem contar. Vou buscar formas de inclusão, chamar a família para conversar, fazer de tudo para que eles não tenham que passar pelo que eu passei. Hoje sei que as pessoas que praticam bullyingfazem isso por problemas pessoais delas e eu não julgo. Hoje estou feliz, apesar de alguns problemas”, diz Irineia.
O projeto Furta-Cor e o seu lema:
Preconceito, igualdade e poesia
Irineia cresceu escutando das pessoas de seu convívio que “preto não tinha que estudar”. Isso foi um dos motivos pelos quais ela nunca imaginaria que em 2019 estaria cursando Geografia em uma universidade pública. No entanto, entre os conceitos espalhados pelo Furtacor no ambiente escolar, uma palavra chamou a sua atenção: igualdade. E foi essa a palavra que despertou nela a sensação de capacidade de ir atrás de seu objetivo.
“Eu ouvia que preto tinha que se preocupar só em casar. Mas entre essas coisas que eu escutava e o bullying que eu sofria, encontrei uma maneira de me sentir aliviada: escrever poemas. Tenho mais de 500 escritos, a maioria falando sobre como eu me sentia quando passava por esse tipo de situação. Desde que o projeto me despertou para essa consciência de igualdade, posso dizer que o conteúdo da poesia passou a ser mais positivo. Fui atrás do meu sonho e ele vai se realizar. E continuo escrevendo. Pelo menos uns três ou cinco por semana”, revela Irineia, que permitiu que um de seus poemas fosse reproduzido nesta matéria.
Diversidade
Preto branco amarelo / diversidade de cores / diversidades de pessoas / um país, um mundo multicor / estranho? / estranho é não aceitar a diversidade de um país onde tem todas as raças, onde as cores se misturam formando um arco-íris de belezas várias / com uma coisa em comum: todos seres humanos que merecem respeito
Se não dá para amar, que tal respeitar? É tão simples tolerar, entender, compreender / que ninguém precisa ser igual / é o diferente que forma a beleza / uma cor sozinha é apenas uma cor / mas juntas formam um arco íris / e a beleza está no colorido que enfeita os olhos
Quando não conseguimos amar, devemos pensar / que todos percorrem o mesmo caminho e sempre volta para o mesmo lugar / você só é você por ser diferente / sempre queremos que tudo seja do nosso jeito / então quando isso acontecer pense: não posso amar, mas posso respeitar.
Irineia Maria de Jesus Costa
Mesmo com todas as barreiras que impediram Irineia de seguir em frente, e com todo o cotidiano que tem de enfrentar para frequentar as aulas na universidade – ela mora na zona rural de Pedra Dourada e gasta cerca de duas horas de trajeto por dia, com três lotações – a estudante se orgulha de dizer que não vê a hora de chegar a 2023. “É neste ano que vou ter o meu diploma nas mãos. Quem diria! Mas, enquanto isso, vou viver um dia de cada vez e aprender com cada momento que essa nova fase vai me proporcionar”, diz a futura professora.
Furta-cor
O projeto Furta-Cor envolveu rodas de conversa, reunião entre pequenos grupos, aplicação de questionários, visitas a pontos turísticos da cidade, trabalho de campo em locais que antigamente eram separados para negros e brancos, entre outras atividades. “Tudo foi feito com muito cuidado para que os alunos refletissem sobre suas origens, sua cor, sua identidade, sobre a real significação de ser de uma cor ou de outra. Com isso, aos poucos, todos iam se percebendo mais, reconhecendo-se como iguais cada vez mais e dando valor a eles mesmos e aos outros colegas”, explica a professora orientadora Amanda Carvalho.
A professora, que cita a jovem Irineia como um exemplo de superação para todos os integrantes do projeto, viu que a ideia inicial do projeto, que era apenas trabalhar a questão do preconceito racial na escola, teve que ser alterada para ir além da discussão sobre o tema.
“Vi que somente promover debates sobre o tema não seria suficiente, dada a realidade que passei a perceber na escola. A Irineia é um exemplo disso. Fomos além do combate ao preconceito e da reflexão sobre ele e decidimos dar destaque à representatividade dos negros e negras para mostrar o seu valor, para promover o conceito de igualdade e, por meio disso, mostrar que todos somos um, mesmo com todas as diferenças. Ver que a Irineia conseguiu mudar de ideia, conseguiu perceber sua força e correr atrás do seu sonho é um orgulho e uma inspiração imensa para mim e todos os alunos que participaram do Furtacor”, conclui a professora.
A professora e orientadora do projeto, Amanda Carvalho. Foto: Arquivo/Escola
A professora e orientadora do projeto, Amanda Carvalho. Foto: Arquivo/Escola

Iniciação Científica e Ubuntu/Nupeaas
O Programa de Iniciação Científica no Ensino Médio leva a experiência de pesquisa e extensão a estudantes e professores de instituições de ensino estaduais de todas as 47 Superintendências Regionais de Ensino (SREs). A ideia é incentivar, apoiar, valorizar e dar visibilidade à produção e compartilhamento de conhecimentos e saberes, a partir do ensino e da aplicação de metodologias de pesquisa científica no Ensino Médio.
O programa está estruturado em dois eixos. Um deles é o “Núcleo de Pesquisas e Estudos Africanos, Afro-brasileiros e da Diáspora” (Ubuntu/Nupeaas), que tem como enfoque a promoção da igualdade racial pautada no reconhecimento da diversidade como elemento preponderante para o desenvolvimento escolar. Foram selecionados 94 projetos para integrar o eixo Ubuntu/Nupeaas, que é realizado em parceria com a Fundação de Apoio à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig) e Ação Educativa.

O outro eixo, “Territórios de Iniciação Científica (TICs)”, estimula estudantes e professores a identificar problemas, da escola ou da comunidade, com a construção coletiva de soluções para resolvê-los ou minimizá-los por meio de Coletivos de Pesquisa nas escolas. Os projetos são distribuídos nas áreas de conhecimento Ciências da Natureza e suas Tecnologias; Matemática e suas Tecnologias; Ciências Humanas e suas Tecnologias e Linguagens e Códigos e suas Tecnologias. Em 2018 foram criados 33 Coletivos de Pesquisa e Iniciação Científica e foi realizado um encontro estadual de apresentação dos projetos de pesquisa.

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