Por Anderson Belem (*)
Não é incomum vermos empresas levantarem
a bandeira da inclusão e diversidade, buscando contratar pessoas de diferentes
raças, gêneros e culturas. Agora, parece entrar na moda, o assunto da
neurodiversidade. Não, não deveria ser nem bandeira, nem moda, deveria ser um
princípio.
Afinal, a pergunta que sempre fica
quando vemos notícias assim é se a chance dada a todos é realmente uma chance
de desempenhar bem sua função na empresa e demonstrar resultados ou apenas a
marca se apresentando como cool? Seria apenas um favor a estes profissionais ou
a busca de estar em conformidade com a lei e cumprir cotas? O S de social do
ESG é real ou fake?
Não sou fã de moda, nem de bandeiras
estereotipadas. E me atrevo a dizer que o movimento de inclusão das pessoas
neurodivergentes deveria passar muito longe disso. Afinal, a diferença no
pensar e agir traz novas visões sobre o negócio e soluções que não podem ser
encontradas por pessoas que pensam dentro da caixa.
Mas, antes de mais polêmica, vamos
entender o que significa ser neurodivergente. O conceito da
neurodiversidade é recente e foi proposto pela socióloga australiana Judy
Singer em 1998. Ele se baseia na ideia de que as pessoas que apresentam um
funcionamento neurocognitivo diferente do padrão comum não devem ser consideradas
doentes ou com transtorno.
Atualmente, aproximadamente 15% da
população mundial é classificada como neurodivergente. São pessoas que, em
situações específicas, respondem de forma diferente daquilo que seria esperado,
o que pode provocar até mesmo dificuldades de adaptação. Como exemplo, temos
dislexia, TEA, TDAH e síndrome de Tourette.
Atrair e reter talentos neurodivergentes
não deveria ser um favor, muito menos uma política para estar em conformidade
com a exigência de cotas, mas um princípio para as empresas que desejam ter uma
performance acima da média. Falo isso como um empresário neurodivergente
diagnosticado com TDAH e Altas Habilidades/SD Criativo Produtivo apenas aos 40
anos.
Hoje olho para trás e vejo que durante
toda minha vida escolar e carreira profissional trilhei um caminho repleto de
mal-entendidos e oportunidades perdidas até a fundação da Otimiza Benefícios. A
startup nasceu justamente da minha visão diferente das coisas que levou a
reengenharia no modelo de benefício do vale-transporte, poupando milhões de
recursos que eram desperdiçados anualmente. Será que em seu quadro de
colaboradores não há uma ideia neurodivergente sendo desperdiçada?
Apenas para ilustrar, o relatório, “a
diversidade vence: como a inclusão é importante”, produzido pela McKinsey em
2020, demonstra que as equipes neurodivergentes superam as homogêneas em 36%,
em termos de rentabilidade.
A neurodiversidade deve ser vista como
um aspecto valioso da sociedade, não como um obstáculo a ser superado ou um
favor para com pessoas doentes, pois não se trata disto. Integrar profissionais
neurodivergentes é uma forma de trazer novas visões, inovações e alavancar o
negócio. Mas também requer um planejamento cuidadoso e sensível. Os colegas de
trabalho precisam ser educados e preparados para acolher estas pessoas de
maneira efetiva e respeitosa.
É preciso desmistificar a
neurodivergência no mercado de trabalho e apresentar os benefícios da
pluralidade e diversidade acima de tudo. A verdadeira superação reside em
aceitar nossas singularidades e entender que a inovação nasce da diversidade.
*Anderson Belem é CEO da Otimiza
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