Por Avelino Ferreira /Tempo News
Italva, mesmo quando distrito de Campos dos Goytacazes (na
época era apenas Campos), tinha como referência, inclusive para muitos da
cidade, a Casa de Saúde Imaculada Conceição, onde nasceram milhares de
italvenses. Fundada em julho de 1965, duas décadas antes da emancipação do
município, pelos médicos itaperunenses Adilton Jorge Crespo, Adir Carlos Crespo
e Carlos Antônio Deslandes.
Em seu auge, a Casa de Saúde contava entre quarenta e
cinquenta funcionários (incluindo médicos e enfermeiros) e fazia três mil
consultas mês, com cerca de 400 intervenções cirúrgicas.
Em 2012, após algum tempo vivendo uma crise econômica, o que
gerou muitas ações trabalhistas na Justiça do Trabalho, a Casa de Saúde foi
fechada, funcionando apenas o pronto socorro, mantido em convênio com a
Prefeitura. Pronto socorro que ainda continua funcionando.
Em 2016, foi reaberta, enchendo de esperanças o povo de
Italva, hoje mais concentrado na cidade, em seus diversos bairros. Mas foi
novamente fechada dois meses depois, para tristeza e aflição dos munícipes.
O fato que causou indignação em alguns e tristeza e tantos
outros de Pedra Branca ou Italva, (contrastando com Itaperuna (que é Pedra
Preta é que, após anos em perfídia, os ex-funcionários ganharam na Justiça do
Trabalho o direito à indenização). E no último dia 28 de março, o terreno e
edifício da Casa de Saúde Imaculada Conceição foi a leilão.
Com 1040 metros quadrados e um prédio que abriga o pronto
socorro, além dos leitos e enfermarias da parte superior, foi avaliado em R$ 4 milhões
e 400 mil. Porém, a Justiça do Trabalho estabeleceu como lance mínimo, quantia
de R$ 1 milhão e 320 mil. O leilão teve um único lance, com o mínimo
estabelecido, e vendido para um empresário itaperunense que é um investidor e
estranho a esfera da saúde.
Estranho, mas possível, pois o caso entre a Casa de Saúde e
os funcionários vinha se arrastando há anos e, finalmente, chegou ao fim. Não
se sabe se o valor mínimo do lance será suficiente para pagar as despesas do
leilão e todas as dívidas com os funcionários. Todavia, neste caso específico,
resolve-se total ou parcialmente um caso consolidado: a dívida com os
trabalhadores.
Por outro lado, a frustração do povo de Italva que, inerte,
soube do leilão e, impotente, nada pode fazer, contra uma decisão judicial. Nem
mesmo convencer a pessoas interessadas na salvação do mais importante (além das
escolas, é claro) bem daquela comunidade. Além de tudo, histórico.
O que será da Casa de Saúde? Especula-se apenas: um depósito
de material de construção? Sua demolição e a construção de um centro comercial?
Enfim, a incerteza do futuro da Casa de Saúde paira sobre as cabeças dos
italvenses que veem o sonho de ter um hospital municipal, mesmo que particular,
desvanecer-se.
Estranha-se o lance mínimo de R$ 1 milhão e 320 mil, quando a
avaliação é de R$ 4 milhões e 400 mil. Porém, no sistema capitalista é assim
que as coisas funcionam. Servir ao próximo, só se for lucrativo. Caso
contrário, dane-se o próximo. Os governos têm obrigação constitucional de
cuidar da saúde e da educação do povo. No Brasil, esta obrigação parece letra
morta.
Fica, então, a pergunta: qual o real destino da Casa de Saúde
Imaculada Conceição?
*Avelino Ferreira é jornalista e professor
Fonte. Transcrito
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