Em "D. e o Procurador", Fauno
Mendonça apresenta suspense com dramas existenciais a partir de universo criado
por Bram Stoker
Antes da
famosa história de Drácula, eternizada como um dos grandes arquétipos do
vampirismo, o personagem contrata o procurador Connor Burke para comprar
imóveis na Inglaterra e ajudá-lo a reencontrar a amada Elisabetha. Estes fatos
não estão no livro de Bram Stoker - eles ocorrem no enredo inédito criado por Fauno Mendonça em D. e o Procurador. Nele, os fãs do ser imortal e até aqueles que nunca
tiveram tanto contato com o clássico podem se aprofundar no passado de um dos
maiores símbolos da literatura mundial.
A obra traz perspectivas pouco
exploradas do conde da Transilvânia, como pensamentos íntimos, um antigo amor e
experiências na Ordem do Dragão, instituição cristã responsável por defender os
ideais religiosos e batalhar contra os turcos-otomanos. Mas, apesar de ser a
figura central que movimenta os acontecimentos da trama, é o leitor que escolhe
quem será o personagem principal. Isso porque Connor Burke também assume o
protagonismo e vai apresentar os contextos da era vitoriana, ao passo que entra
em conflito com os próprios sentimentos e pondera sobre dilemas nacionalistas.
O procurador irlandês viaja até o
castelo de Drácula para prestar contas sobre os imóveis adquiridos. Ele não
sabe a verdadeira intenção do nobre misterioso, mas tornou-se seu representante
oficial. Apesar de reconhecer os perigos de aceitar a ocupação, o homem
permanece nesta missão e começa a desvendar enigmas no país estrangeiro.
Enquanto cumpre com a promessa feita ao vampiro, imerge em uma profunda
introspecção para buscar um sentido na vida e se reconectar com as origens.
Pelo menos naquelas últimas horas não se
lembrava de seu encontro que teria com Drácula. A viagem aos Cárpatos se tornou
menor diante de tantas notícias severas que recebera em um espaço de tempo tão
curto. De qualquer forma, ele estava convicto de a vida ser impositiva e não
admitir ser detida. Ela segue o fluxo do tempo, e o tempo não para. (D. e o Procurador, p. 108)
De maneira linear, o livro alterna as narrativas
entre primeira e terceira pessoa: uma é utilizada para incluir as reflexões do
conde, um ser orgulhoso que precisa falar sobre si mesmo; e a outra descreve as
vivências do protagonista e a necessidade dele de fugir do vazio existencial.
“Demonstro com maior clareza que Drácula tem um lado humano tal qual um homem
comum que procura felicidade, amor e paz. Usando o Connor, mostro que todos
devem ter um propósito de vida. Inclusive, o conde, por ser uma criatura antiga
e mais sábia, dá ensinamentos ao procurador para ele encontrar seu caminho”,
explica o escritor.
Além de aprofundar os aspectos
psicológicos dos personagens, Fauno Mendonça destaca as culturas locais que atravessam da Irlanda à
Romênia. Ele ainda se aprofunda nos problemas políticos, sociais e econômicos
existentes na Europa no final do século XIX, ao tratar sobre os conflitos entre
a Ilha da Esmeralda e a Inglaterra, que culminou na Grande Fome e na imigração
de irlandeses para os Estados Unidos; a batalha da Ordem do Dragão contra o Império
Otomano; e as diferenças entre a era industrial no Reino Unido em comparação
com o leste europeu.
Com uma ficção de atmosfera gótica, o
escritor narra fatos anteriores aos percalços vivenciados por Drácula com a
chegada de Jonathan Harker no castelo da Transilvânia e reflete sobre as
origens de personagens que não haviam sido desvendadas por Bram Stoker. Mas D. e o
Procurador extrapola os limites
deste mundo de terror e suspense porque adentra em dilemas atemporais das
nações e destrincha as contradições inerentes dos seres humanos.
Ficha técnica
Título: D. e o Procurador
Autor: Fauno Mendonça
Editora: Motres
ISBN:
978-65-990733-8-0
Páginas: 470
Preço: R$ 42 (físico) | R$ 9,90 (e-book)
Onde encontrar:
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