Por Heloisa Sousa e Renata de Souza Gomes
Fotos: CPT MG
Localizada na Zona da Mata Mineira, município de Divino (MG), a comunidade de Carangolinha, composta por 46 famílias que fazem parte do Polo Agroecológico e de Produção Orgânica da Zona da Mata, está aos pés do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro. Fonte de inspiração da experiência agroecológica Cafés do Brigadeiro, o parque é também lar de inúmeras nascentes que contribuem na formação das bacias do rio Doce e do Paraíba do Sul.
O projeto surge em um contexto de enfrentamento à mineração que avança na região e ameaça cada vez mais a identidade camponesa e os modos de vida da comunidade. Atualmente, doze mulheres estão envolvidas neste projeto de vida que produz café livre de agrotóxicos e incentiva a prática da economia solidária.
Instrumento de luta política pelo direito ao território e ao alimento sem veneno, a experiência na produção de café agroecológico subverte a lógica da monocultura de uso intensivo de agrotóxicos e de invisibilização do trabalho das mulheres na cultura cafeeira.
“Aqui na comunidade, trabalhamos com três pilares: ver, julgar e agir. Com eles, dia após dia, mudamos a nossa realidade e contribuímos para mudar a realidade do mundo. Além de termos cafés de qualidade, cultivamos a vida, fortalecemos os movimentos sociais e lutamos por igualdade social”, explica Renata de Souza Gomes, uma das produtoras e conselheira da Comissão Pastoral da Terra em Minas Gerais.
Desde que iniciaram o projeto, o Café dos Brigadeiros e sua produção feita por mulheres têm ganhado destaque e melhorado a renda familiar dos moradores da comunidade, através de um trabalho justo, sem exploração de mão de obra e do meio ambiente e com preços acessíveis.
As mudanças climáticas, a falta de políticas públicas de incentivo, as logísticas de comercialização e o machismo são alguns dos desafios enfrentados pelas produtoras. No entanto, com o trabalho coletivo e o produto de qualidade, a iniciativa se consolida cada vez mais.
“Acreditamos que estamos avançando significativamente rumo ao empoderamento feminino e fortalecendo a luta contra os agrotóxicos. Além disso, reforçamos cada vez mais as redes de comercialização e o circuitos curtos, fazendo com que os produtos cheguem sem passar por atravessadores, queremos que nossos cafés estejam nas mesas de todos e todas. Como ação local, acreditamos que estamos contribuindo para mudanças globais. Ao preservar nossas nascentes, nossas matas, nossas sementes, temos a certeza de que estamos preservando o equilíbrio do qual dependemos para viver”, conclui Renata.
*Este relato faz parte da série de experiências da campanha 'Fraternidade Sem Fome, pão na mesa e justiça social'
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