REDAÇÃO - A família de Lucas Morais de Trindade está processando o estado de Minas Gerais pedindo indenização de R$ 458 mil. O jovem foi detido com cerca de 10 gramas de maconha e morreu de Covid-19 no presídio de Manhumirim, na Zona da Mata do estado, no dia 4 de julho.
Segundo o advogado Felipe Peixoto, o valor é referente ao pedido de R$ 100 mil de danos morais para cada filho de Lucas, de 4 e 6 anos, e de uma pensão de um salário mínimo, valor que ele recebia no trabalho, até que as duas crianças completem 25 anos.
"Antes de ser preso, Lucas é quem ajudava a família. Ele foi detido porque um adolescente disse que tinha comprado maconha com ele. Quando os militares chegaram na casa de Lucas encontraram um pouco da droga no bolso da calça dele. A quantia apreendida com o adolescente e com Lucas não chega a 10 gramas. Ele disse que era para consumo próprio", diz o advogado.
Ainda de acordo com Peixoto, a defesa solicitou exame toxicológico para provar que ele não tinha dependência química, mas o pedido foi negado.
"Ele foi condenado a 5 anos e 10 meses em regime fechado. Segundo notas oficiais, mais de 80% dos detentos contraíram o vírus. O primeiro detendo diagnosticado com Covid-19 tinha sido transferido alguns dias antes. Acredito que ele tenha contaminado os demais. O Estado de Minas Gerais é o responsável pelo presídio", afirma o advogado.
A Advocacia-Geral do Estado informou que ainda não foi intimada.
Julgamento de habeas corpus seria dias depois de ele morrer
Lucas estava no presídio de Manhumirim desde 2018. Ele teve três pedidos de habeas corpus negados. O julgamento da apelação da sentença seria no dia 28 de julho – três semanas após a morte por Covid-19. A defesa tinha esperança de que ele pudesse sair por causa da fragilidade das provas.
Lucas nasceu em Espera Feliz, na Zona da Mata mineira, cidade com pouco mais de 20 mil habitantes. Com seis irmãos, perdeu a mãe e foi morar com a avó e a tia, mãe de Claudinéia.
“Foi uma vida muito difícil porque somos uma família carente. Ficou minha mãe e minha avó para criar os sete filhos, eu e meus três irmãos”, contou a prima de Lucas, Claudinéia Moraes.
As famílias moravam em casas vizinhas. Depois que uma delas foi soterrada após a queda de uma barreira, passaram a viver todos sob o mesmo teto.
“Minha avó fez o melhor que pôde com ajuda da minha mãe”, disse Claudinéia.
Lucas trabalhava em um armazém de café na época em que foi preso. Ele estava em casa, deitado na cama, com o uniforme da empresa, quando policiais bateram em sua porta por volta de meia-noite.
O jovem e outros 158 detentos do presídio testaram positivo para a Covid-19 através do teste rápido. A reportagem perguntou à Sejusp se a causa da morte foi confirmada depois e a pasta disse que as investigações seguem a cargo da Polícia Civil.
"Tem uma pessoa conhecida que mora em Manhumirim que disse que tinha falecido um Lucas no presídio. A gente nem sabia que era ele porque tem mais três Lucas na lista de contaminados. Logo em seguida entraram em contato com a minha mãe e avisaram sobre a morte dele. Ficamos sem acreditar", disse a prima.
A família pagou R$ 380 pelo serviço funerário para que o corpo de Lucas pudesse ser enterrado em Espera Feliz.
“Não teve velório, né?’", lamentou Claudinéia.
Com informações G1
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