Podcast itinerante Minha História de Doação chega a Salvador (BA) e conhece a história de Dhay Borges, que busca levar a periferia ao centro
O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra é celebrado em 20 de novembro e é uma homenagem a Zumbi dos Palmares, um símbolo de resistência e luta contra a escravidão, mas poderia ser também ao Coletivo Resistência Preta, de Salvador (BA), ou a outras tantas organizações engajadas na mesma luta. Idealizado por Dhay Borges, a história do coletivo e a do soteropolitano foi contada, por ele mesmo, no terceiro episódio do podcast itinerante Minha História de Doação, realizado pelo Dia da Doar e promovido pela Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR).
O episódio A união do povo preto para se tornarem visíveis e fortes em Salvador (BA) aborda a história de Dhay, que nasceu em uma família resistente, ativista e envolvida com a cultura de doação, principalmente sua avó. Ela morava em um bairro onde grande parte era ocupado pelo povo preto e, desde então, mantinha uma relação social ao compartilhar algo básico, a água vinda de uma fonte em sua casa, com quem precisava.
Antes de se tornar o ativista que é hoje, o jovem se aventurou no futebol, que era seu sonho e, após, na música, que o fez viajar pelo mundo. Apesar das turnês e da vida confortável que levava, sempre que retornava a Salvador, o choque de realidade batia: ele via a alimentação sendo feita com comidas de baixa nutrição e assistia seus conhecidos falecerem, seja pelo tráfico ou até pela desnutrição.
Dificuldades financeiras para levar a periferia ao centro
Em 2020, o mundo vivia o caso do assassinato de George Floyd, que ocorreu nos Estados Unidos. Apesar da distância, Salvador também precisava de um coletivo que colocasse a periferia e o povo preto no centro. Após morar em diversos estados brasileiros, Dhay retornou para sua cidade natal e foi convidado para montar o Coletivo Resistência Preta. O nome surgiu após uma enquete entre os envolvidos e hoje, cerca de 100 lideranças de 124 bairros fazem parte.
Apesar da quantidade de pessoas envolvidas, grande parte das atividades são desenvolvidas por voluntários, mas essa é uma realidade nacional. Segundo o relatório PIPA, organizações lideradas por pessoas pretas enfrentam desafios financeiros significativos e relevantes, mas seguem atuando e sendo resistência. Editais, doações, vaquinhas, bingos, eventos, entre outras formas, são utilizados para que os projetos se mantenham.
Buscando a auto sustentação, o idealizador do coletivo conta que diversas ações já foram realizadas, principalmente focadas em aumentar o engajamento da cultura de doação. “Já fizemos vaquinha on-line com mais de 50 lideranças e todos os alimentos e roupas que conseguimos foi dividido para que as organizações realizassem a distribuição em suas comunidades”, conta.
Outra história do coletivo e que merece destaque ocorreu em 2022, quando o coletivo foi convidado para participar do Doa Brasil, relembra Dhay. “Foi um match perfeito, pois estávamos para o Dia de Doar. Após o convite, cerca de 50 lideranças se reuniram no Museu da Arte Sacra e conseguimos falar sobre o Dia de Doar 2022. Neste encontro, criamos uma agenda que permanece até hoje. Foi uma grande conquista”.
A luta para manter a periferia no centro é árdua, mas Dhay segue acreditando na solidariedade e que doação é entrega. Para ele, o Brasil, que possui grandes memórias carregadas de identidades, símbolos, culinárias e formas de se comunicar, precisa construir um futuro que barre o que hoje aparece como ausência nos indicadores, as oportunidades.
Podcast foi gravado entre os meses de julho e setembro
As gravações ocorreram entre os meses de julho e setembro de 2023 e os episódios foram conduzidos por Carolina Farias, líder do Dia de Doar. Dentre os entrevistados, estão gestores de OSCs, gerentes e coordenadores de marketing e de captação de recursos, doadores e voluntários (pessoa física). “Passar por todas as regiões do Brasil de carro me trouxe uma possibilidade de realmente poder enxergar as mudanças que tem de um território para outro e de uma cultura para outra dentro de um mesmo Brasil”, destaca Carolina.
O propósito do "Minha História de Doação" é despertar a sensibilidade do público para o trabalho das Organizações da Sociedade Civil (OSCs), fomentando uma cultura de doação por meio de histórias envolventes. Para complementar o objetivo, o projeto aproveitou a oportunidade de incentivar a cultura nas cidades onde passou, oferecendo workshops e capacitações gratuitas para fortalecer as organizações sociais.
O primeiro episódio, intitulado de Combate à violência doméstica a partir de uma feira do bem, foi gravado em Duque de Caxias (RJ), com a idealizadora do coletivo Feira do Artesão, Patrícia Sudré. O coletivo é uma forma de impactar socialmente mulheres. No segundo, Ceiça e Claudia Ribeiro contaram a história da ONG Planeta dos Bichos de Ilhéus (BA), e compartilharam as dores e os amores de cuidar de tantas vidas.
O projeto é realizado pela ABCR e o Giving Tuesday, com promoção do Movimento por uma cultura de doação e contou com apoio da Rede Comuá, por meio do Programa Saberes, patrocínio da Doare, e parceria com o Observatório do Terceiro Setor. Os episódios são liberados quinzenalmente, toda terça-feira nas plataformas de streaming. Para ouvir no Spotify, clique aqui.
Sobre o Dia de Doar
O Dia de Doar faz parte de um movimento mundial chamado #GivingTuesday (terça-feira de doação). A iniciativa aconteceu pela primeira vez nos Estados Unidos, em 2012, e é realizada sempre na terça-feira após o Dia de Ação de Graças (Thanksgiving), uma resposta solidária à Black Friday e à Cyber Monday. No Brasil, a primeira edição foi em 2013 e, no ano seguinte, o país entrou oficialmente no movimento global. Liderado pela Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), o Dia de Doar faz parte do Movimento por uma Cultura de Doação e, em 2023, contou com apoio do Movimento Bem Maior.
O Dia de Doar é uma iniciativa que visa estimular a doação de pessoas físicas, empresas e organizações, e tem um papel fundamental ao mostrar que todos podem participar, fortalecendo o hábito de doar como parte do cotidiano das pessoas. Já as organizações sem fins lucrativos podem realizar ações para receber doações, virtuais ou presenciais. No site do Dia de Doar (www.diadedoar.org.br) estão disponíveis mais informações, dicas, materiais e manuais para quem quiser realizar sua própria ação de doação.
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