Ao Exmo. Sr. Prefeito de Tombos – MG
Sr. Tiago Pedrosa Lazzaroni Dalpério
Eu, Bernadete Lage, residente atualmente em Tombos-MG, venho respeitosamente requerer de V.Sa. atenção para o que passo a relatar.
Nasci e morei aqui até os 16 anos, quando minha família mudou-se para Belo Horizonte, para encaminhar os filhos. Desta minha cidade natal guardo as memórias de infância e adolescência. Dentre as lembranças felizes, estão os nossos banhos de rio, quando criança, acompanhados pelo meu pai e mais tarde, pelo meu irmão mais velho. Com o tempo, passamos, eu e minhas amigas, a irmos à Cachoeira do Grilo. Claro, sem informarmos a nossos pais. Naquela época, ainda não havia piscina na cidade.
Sr. Prefeito, todas as pessoas sabem que crianças (adolescentes e adultos também) amam brincar nos rios de todos os cantos do mundo. É sua chance de estar em contato com a natureza, absolutamente necessário. E todos nós reconhecemos os perigos que podem advir disso.
Uma semana atrás, nossa cidade foi tomada de comoção geral pela tragédia que se abateu sobre a família do menino Bruno, dilacerando nosso coração. Uma família tristemente fragmentada por essa dor profunda. Uma perda que impactou pais, avós, amigos – todos os tombenses. De certa forma, morremos um pouco, quando perdemos uma parte do todo, que forma nosso tecido social. Nesse momento, foi alguém de idade tão tenra, que nem experimentou a vida. Lembrei-me de que uma semana antes dessa tragédia, eu estava fazendo um vídeo com imagens também da cachoeira do Grilo e constatamos a presença de mais de 40 crianças e adolescentes nadando alegremente. Um deles, pré-adolescente, me pediu que não o deixasse aparecer, pois sua mãe ficaria zangada se o visse nadando.
Confirmamos, então, que proibir não resolverá, pois a sedução da alegria de brincar na água é irresistível. Vale lembrar que uma tragédia dessas é absolutamente eterna. A cada vida perdida, nos vem à lembrança outros tristes episódios como esse. Lembro-me de um moço alegre, cheio de vida, que um dia partiu durante um banho ali. Conversando, ontem, com uma amiga, ela me disse que muito tempo atrás, seu primo do Rio de Janeiro foi tomar um banho antes de pegar o ônibus para voltar pra casa. Também perdeu sua vida. Outro relato foi do Sebastião, vigia do bairro Grilo, que perdeu seu irmão, pré-adolescente, afogado. E outros tristes episódios, na cachoeira do Grilo, que vêm à tona e turvam os olhos e coração de todos da cidade.
Sr. Prefeito, peço licença para deixar patente o que nós dessa cidade sentimos: a Cachoeira do Grilo é um local sagrado, de beleza encantadora. Traz-nos paz. Patrimônio natural de cura. Devemos, então, lutar para que jamais volte a ser um cenário de dor, morte e desencanto.
Respeitosamente, relato algumas observações sobre as relações milenares, ser humano, água e natureza:
Nosso corpo é composto, observando as variações etárias, de 50% a 75% de água. Imagino que talvez seja por isso que nosso cérebro demonstra alegria e satisfação quando estamos em contato com ela, a água. Confirmamos esse hábito, por exemplo, nas descrições de sítios arqueológicos milenares e na cultura ancestral indígena. E no mundo inteiro, sempre se buscou praias e piscinas, para diversão. Ambas, com segurança garantida por guarda-vidas (salva-vidas), além de adultos por perto. Quem tem condições financeiras, ou constrói piscina em casa ou banheiras de hidromassagem, tendo assim, garantida a relação prazerosa com a água. Essa atração é irresistível e mais forte ainda com crianças e adolescentes. Portanto, proibir, buscar impedir isso, serão sempre ações inócuas.
Para alertar o mundo sobre a necessidade de medidas de prevenção de afogamentos, em 14 de julho de 2021 foi adotada, pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), a resolução 75/76, consagrando o dia 25 de julho como o Dia Mundial de Prevenção do Afogamento.
Em face do exposto, peço, respeitosamente, licença para algumas sugestões, mesmo levando-se em conta o fato de que o senhor, por ter experiência de aplicação de estratégias em varias áreas, certamente tem a contribuir nesse cenário para proteção dessas vidas.
AÇÕES PARA REDUÇÃO DE DANOS
I. Que seja criado um protocolo, simples, prático e definitivo para ser seguido, durante quatro meses (novembro, dezembro, janeiro, fevereiro), com procedimento técnico e pedagógico, de fácil execução, para prevenção e socorro no Balneário do Grilo. Observemos que não se trata de logística dispendiosa.
II. Durante as TARDES, SOMENTE NESSE PERÍODO: manutenção de um funcionário preparado.
III. Que seja aberta a possibilidade de se agregarem Voluntários na cidade, cada um oferecendo, pelo menos, UM DIA POR MÊS para estar presente.
Lembramos, a todos, que ser Voluntário é a oportunidade sagrada de interferirmos no mundo, apenas movidos pelo amor ao próximo. Por decorrência, PELA LEI DO RETORNO (ISAAC NEWTON) – e a de DEUS, garantirão proteção a si e à própria família.
IV. Esse Funcionário e Voluntários recebendo um treinamento, solicitado à logística do Corpo (Estadual/Oficial) de Bombeiros.
V. À Prefeitura, em ação constante, caberia fornecimento de uma cadeira, uma sombrinha de praia, um celular para solicitação de socorro e outros itens de emergência, se sugeridos pelos especialistas.
VI. E, a mais urgente e necessária, a avaliação técnica de empresas do setor, que busquem formas seguras de explosão dessa PEDRA, QUE TEM SIDO A MAIOR CAUSA DE ÓBITOS, com pessoas que não conhecem esse perigo silencioso e invisível. Iminente risco para visitantes ou moradores sem experiência, como no último caso, lamentavelmente fatal.
Sr. Prefeito, sei que o senhor compreende que o destino de todos no mundo está sob uma Regência Superior, de acordo com o pensamento religioso e filosófico de cada um. E sei também que é bom nos lembrarmos sempre que nossa responsabilidade, como seres humanos, somente cessa depois de esgotarmos todas as nossas possibilidades de prevenção de fatalidades como essa. Só assim poderemos estar em paz em qualquer circunstância trágica. Fizemos o que podíamos!
Pelo exposto, acredito, sinceramente, que o senhor envidará todos os esforços possíveis para que evitemos outra dor de tamanha proporção, que marca a todos nós, como partícipes da busca por um mundo mais humanizado, fraterno e pacífico.
Bruninho não partiu em vão!
Agradeço sua atenção e o esforço, seu e coletivo, na busca de uma solução, pessoal e conjunta com especialistas em redução de danos como esse. Solução efetiva e viável.
Reitero meu respeito e confiança na sua apreciação ao solicitado.
Afirmo, também, que essa minha modesta colaboração é baseada apenas na angústia de, como mãe e avó, lutar para que dor tão grande não seja uma ameaça constante em parte do cenário de nossa querida Cidade.
Atenciosamente,
Professora Bernadete Lage.
Tombos, 15 de Março de 2022
Nota.
Parabéns Bernadete Lage e, para ampliar esse coro e importante pedido, publicamos.
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