quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Fim impositivo da jornada 6 x 1 é autoritarismo de esquerda, diz especialista

 Stephen Kanitz

Stephen Kanitz, que é mestre em Administração pela Harvard e bacharel em Contabilidade pela USP, acredita que a redução salarial seria um dos primeiros efeitos colaterais

Em discussão na Câmara dos Deputados, a extinção da jornada de trabalho 6x1 (ou seja, de seis dias de trabalho para um de folga) vem gerando debates nos mais variados fóruns, desde aqueles que debatem questões administrativas e contábeis até os de socialização e saúde mental.

Para o consultor de empresas e conferencista Stephen Kanitz, o fim impositivo da jornada 6x1 traria uma série de malefícios para a economia brasileira e para os próprios trabalhadores.

O primeiro reflexo, diz Kanitz, seria uma diminuição do salário. “Os trabalhadores inevitavelmente receberão menos, já que agora trabalharão menos. A curto prazo, isso pode não ser evidente, mas a longo prazo os salários diminuirão.”

Além disso, segundo o consultor, a maioria dos trabalhadores afetados acabaria buscando trabalhos extras nos outros dias livres, caso houvesse a obrigatoriedade de uma jornada 4x3, por exemplo.

“Provavelmente 70% deles seguiriam esse caminho, mas em atividades de produtividade muito menor do que sua ocupação principal - como pintores improvisados, quando, na verdade, são torneiros mecânicos”, diz.

Por fim, explica Kanitz, as empresas teriam de contratar um novo turno no formato 2x5, já que as máquinas não podem ficar paradas. “Com isso, seriam dobrados os custos com recursos humanos, treinamento e gestão, o que acarretaria aumento no preço final dos produtos, prejudicando o consumidor”, ressalta.

Para Kanitz, o cerne da discussão está em uma concepção paternalista da esquerda brasileira que pensa que sabe mais sobre o trabalhador brasileiro que ele próprio. “Os trabalhadores não precisam mais da tutela do Estado para decidir qual regime de trabalho consideram mais adequado. Nós somos suficientemente maduros para saber o que queremos. Uma mudança nacional para uma jornada de trabalho 4x3 é mais uma forma de autoritarismo da esquerda”, finaliza.

EXPERIÊNCIA

Stephen Kanitz, 78 anos, é consultor de empresas e conferencista, mestre em Administração de Empresas pela Harvard Business School e bacharel em Contabilidade pela Universidade de São Paulo (USP). Foi articulista da Revista Veja e da Exame, onde criou, em 1974, o prêmio Melhores e Maiores, primeira iniciativa de benchmark do jornalismo brasileiro.

Foi assessor do Ministério do Planejamento durante o governo José Sarney, em 1988, mas deixou o cargo por divergências sobre a renegociação da dívida externa. Foi um dos líderes que disseminaram o conceito de responsabilidade social das empresas, ao criar o primeiro site de voluntariado, o voluntários.com.br, e de doações na internet brasileira, o filantropia.org.

Também foi criador do Prêmio Bem Eficiente, que ajudou a colocar o terceiro setor na agenda jornalística do país. Criou ainda o Think Thank mentesbrilhantes.org e tem apoiado o ecossistema dos Think Tanks brasileiros, organizações que pensam e recomendam políticas públicas com impactos, por meio do thinkers-brasil.org.

É autor de diversos livros, como “O Brasil que Dá Certo”, “Família Acima de Tudo” e “A Missão do Administrador”. Em seu blog pessoal, blog.kanitz.com.br, escreve sobre contas públicas, administração de empresas, capitalismo, desenvolvimento pessoal, família e sociedade.

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