Em livro de contos, Israel Pinheiro resgata o espírito solidário de uma época em que ninguém deveria se sentir sozinho
É possível preencher o vazio nos corações partidos ou solitários durante o Natal? Apesar de simbolizar alegria, união e renovação, o período nem sempre é feliz para todas as pessoas, e o escritor pernambucano Israel Pinheiro resolveu dar sentido a essas dores e dificuldades por meio da escrita. Em 3 Natais Recifenses, ele explora, a partir de vivências tipicamente brasileiras, os sentimentos intensos que a data desperta: esperança e a satisfação dos reencontros, mas também a saudade, aflições do cotidiano e o luto.
Com desfechos leves e otimistas, os três contos da obra homenageiam a capacidade que o povo brasileiro tem de ser resiliente e alimentar a esperança em meio às dificuldades. Enquanto em “3 Protocolos”, jovens enfrentam a ansiedade da espera por resultados de exames de HIV, gravidez e COVID-19; já “O Natal das Coutinhos” registra as angústias de duas primas que, na madrugada de Natal, são chamadas ao hospital para acompanhar o desfecho da internação prolongada do tio em coma.
— É sério que tu tá pensando que é isso?
— Lógico. Faz cinco anos que ele tá em coma e o hospital nunca chamou a
gente aqui às pressas pra nada. De repente o hospital liga de madrugada e
pede pra gente vir com o máximo de urgência possível. Pra mim é bem
plausível pensar que ele pode ter despertado do coma.
Luiza esfrega os olhos e parece desapontada com a prima:
— Tipo um milagre de Natal?
— Tipo um fato da vida. Tipo um fato médico: o paciente entra em coma e
depois sai do coma. Simples. É algo que deve acontecer todo dia.
— Eu queria ter teu otimismo, Clarinha. É sério. (3 Natais Recifenses, p. 22)
Entre tensões cênicas, diálogos profundos e gírias bastante comuns, principalmente no Nordeste do país, as histórias servem de companhia e distração ao leitor, enquanto instigam a refletir sobre atitudes e relações interpessoais. Assim como no enredo “Dezembro”, em que um jovem político – com um segredo do passado que ameaça sua carreira – revela os desafios de enfrentar hostilidades nas redes sociais.
O livro surgiu em meio à pandemia de Covid-19 e virou projeto pessoal do autor, no intuito de acolher a quem se sentisse solitário nos natais de confinamento. Por dois anos consecutivos, Israel publicou as histórias inéditas no Instagram para movimentar a noite silenciosa e pacata. 3 Natais Recifenses é um convite para refletir sobre a vida, os laços que unem as pessoas e o poder de uma data que vai além da força espiritual: é símbolo de esperança por dias melhores.
FICHA TÉCNICA
Título: 3 Natais Recifenses
Autor: Israel Pinheiro
Editora: Caravana
ISBN: 978-65-5223110-9
Formato: 14 x 21 cm
Páginas: 45
Preço: R$ 60,00
Onde comprar: Caravana Grupo Editorial
Sobre o autor: Pernambucano, Israel Pinheiro estudou Letras na Universidade Federal de Pernambuco e é graduado em Gestão de Marketing. Sempre foi apaixonado por literatura e tem contos premiados em diversos concursos literários nacionais, entre eles Concurso Nacional de Contos da Universidade do Vale do Paraíba (SP), em 2002; Concurso Literário Sesc Santo Amaro (SP) em 2003; Concurso de Contos Luís Jardim – Prefeitura do Recife (PE), 2007; e Concurso Literário Associação Nacional de Escritores (ANE) - 50 ANOS, CONTOS (DF), em 2013. Na literatura, 3 Natais Recifenses é a sua terceira publicação, que conta também com uma edição em língua espanhola.
Instagram do autor: @pinheiroisrael.silva
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