No começo da semana, dia 22 de janeiro,
o Governo brasileiro lançou o programa Nova
Indústria Brasil (NIB). No plano
de ação, com metas até 2026 para a neoindustrialização, os objetivos
detalhados incluem o estímulo a longo prazo do progresso técnico e,
consequentemente, a produtividade e competitividade nacionais, visando gerar
empregos de qualidade, aproveitar melhor as vantagens competitivas do país e
reposicionar o Brasil no comércio internacional.
A NIB apresenta 6 missões em diferentes
setores da economia brasileira para que seus objetivos sejam alcançados. São
elas:
- Missão 1: Cadeias
agroindustriais sustentáveis e digitais para a segurança alimentar, nutricional
e energética;
- Missão 2: Complexo econômico
industrial da saúde resiliente para reduzir as vulnerabilidades do SUS e
ampliar o acesso à saúde;
- Missão 3: Infraestrutura,
saneamento, moradia e mobilidade sustentáveis para a integração produtiva
e o bem-estar nas cidades;
- Missão 4: Transformação digital
da indústria para ampliar a produtividade;
- Missão 5: Bioeconomia,
descarbonização e transição e segurança energéticas para garantir os
recursos para as gerações futuras
- Missão 6: Tecnologias de interesse
para a soberania e defesa nacionais.
As missões 1, 3 e 5 trazem aspectos
importantes relacionados à economia circular e, por isso, trazemos uma análise
sobre os planos para cada uma delas.
Meta de fortalecimento das cadeias
agroindustriais:
De acordo com o plano de ação da NIB,
faz parte da meta aspiracional para 2033 desta missão aumentar a participação
do setor agroindustrial no PIB agropecuário para 50% e, entre outros pontos,
garantir a sustentabilidade ambiental. Entre os instrumentos para alcançar a
meta, estão a recriação e expansão do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)
no âmbito das contratações públicas, e a criação de uma Estratégia nacional
para o desenvolvimento da agroindústria sustentável. A missão também tem como
alguns dos seus objetivos específicos desenvolver e implementar tecnologias
relevantes para aprimorar a qualidade, agregar valor e reduzir perdas e
desperdícios nos setores alimentício e agropecuário; e recuperar áreas
degradadas.
Análise: Luisa Santiago, diretora
executiva para a América Latina da Fundação Ellen MacArthur
A missão de cadeias agroindustriais
sustentáveis destaca algumas metas, instrumentos e objetivos que podem ajudar o
Brasil a se destacar internacionalmente como um grande produtor de alimentos de
qualidade que também contribui para enfrentar as mudanças climáticas e a perda
da biodiversidade. Contudo, para que isso aconteça, é preciso dar maior ênfase
e priorizar as práticas de produção que tragam resultados regenerativos, isto
é, práticas que reconstroem os solos e a sua biodiversidade, tendo um impacto
positivo na natureza - e não apenas minimizando os prejuízos. Essas práticas
contemplam os objetivos de reduzir o consumo de água e a pegada de carbono na
atividade agropecuária, florestal e agroindustrial, além de permitir o cultivo
de produtos vegetais e de qualidade, sem agrotóxicos e contaminantes. Podemos
incentivar a demanda por essas práticas a partir do design de produtos que
priorizem ingredientes cultivados de forma regenerativa.
Para efetivar essa transição em larga
escala, é importante criar os mecanismos para promover a transição do setor, em
escala e velocidade, para modelos de produção que tenham resultados positivos
para a natureza. Isso é possível de ser feito e temos exemplos de como isso está
acontecendo no Brasil. Após um período de transição, elas trazem maior
produtividade e lucratividade. Os instrumentos de contratações públicas também
podem priorizar produções regenerativas e orgânicas, de modo a valorizar os
agricultores que já contribuem com a regeneração e a incentivar outros a
fazerem a transição para esse modo de produzir.
Meta de melhoria do bem-estar das
pessoas nas cidades:
A missão 3 tem como meta reduzir o tempo
de deslocamento de casa para o trabalho e aumentar o adensamento produtivo na
cadeia de transporte público sustentável. Ela coloca como uma das áreas para o
desenvolvimento de nichos industriais a construção civil digital e de baixo
carbono. Atualmente, este setor responde por até 12% das emissões totais de
gases de efeito estufa. Por esse motivo, a implementação de uma calculadora da
pegada de carbono para obras públicas ou financiadas pelo Estado é um dos
instrumentos para reduzir as emissões e cumprir essa missão.
Entre os objetivos específicos da missão
também está o desenvolvimento de tecnologias, bens, serviços e empresas
nacionais de sistemas de mobilidade, logística de transporte, suas peças e
componentes, com foco na
economia circular, na otimização dos recursos hídricos, na
transição e eficiência energéticas e na digitalização.
Análise: Luisa Santiago, diretora
executiva para a América Latina da Fundação Ellen MacArthur
A proposta dessa missão, que visa a
otimização da mobilidade e a redução da poluição e do desperdício na construção
civil, está se direcionando ao que propõe uma economia circular para o ambiente
construído, porém, é possível elevar a ambição. Aplicar a economia circular ao
ambiente urbano passa por construir apenas aquilo que é necessário, optando por
priorizar o reúso, adaptação e transformação de prédios já existentes,
construir com eficiência, para o longo prazo e utilizando materiais renováveis
e de base biológica, que possam ser recuperados e reutilizados no futuro. Os estudos da Fundação Ellen MacArthur sobre economia circular ao ambiente
construído demonstram ganhos econômicos, de produtividade e de bem-estar aos
cidadãos.
Meta de bioeconomia e transição
energética:
A Missão 5 tem como meta aspiracional
promover a indústria verde, reduzindo a emissão de CO2 por valor adicionado da
indústria, ampliando a participação dos biocombustívels na matriz energética de
transportes e aumentando o uso tecnológico e sustentável da biodiversidade pela
indústria. Os instrumentos para atingi-la incluem incentivos à transição
energética; apoio à economia verde e a valorização da Amazônia. Um dos
objetivos específicos dessa missão é fortalecer as cadeias produtivas baseadas na economia circular
e no uso sustentável e inovador da biodiversidade, desenvolver indústrias da
bioeconomia e promover a valorização da floresta em pé e o manejo florestal
sustentável.
Análise: Luisa Santiago, diretora
executiva para a América Latina da Fundação Ellen MacArthur
Considerando que a economia circular,
neste caso, está sendo vista como um modelo que elimina a geração de resíduos
desde o princípio, além de circular os produtos e materiais em seu mais alto
valor e regenerar a natureza, é positivo ver a menção a uma cadeia produtiva
baseada na economia circular dentro dessa missão. Isso demonstra disposição
para desenvolver a indústria de maneira a dissociar o crescimento econômico do
consumo e desperdício dos recursos naturais, tal qual a economia circular
propõe. Essa missão inclui como uma das ações o desenvolvimento da Estratégia
Naciona de Economia Circular, um instrumento fundamental para desenvolvermos
políticas públicas que facilitem e estimulem a transição das empresas a
práticas de economia circular.
A perspectiva da economia circular para
o uso de ativos da floresta também é outro ponto fundamental. Temos uma grande
riqueza em biodiversidade que pode ser aproveitada de diversas formas pela
indústria. Contudo, os recursos precisam ser gerenciados e regenerados de modo
que a atividade econômica ajude a natureza a prosperar.
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