Cláudio Renato Milagres Pinto, de São Miguel do Anta, na região das Matas de Minas, herdou do avô e do pai o apreço pelo trabalho no campo e hoje compartilha com os filhos as memórias da família e a tarefa de continuar este legado.
No final de 2021, ele e o filho João Pedro Milagres Queiroz participaram do Programa Negócio Certo Rural (NCR) do Sistema Faemg Senar, promovido no município pelo Sindicato dos Produtores Rurais de Viçosa, e assumiram uma nova missão: focar na produção de cafés especiais.
A ideia, que surgiu no NCR, virou realidade este ano. A família agora produz e exporta cafés especiais, com o auxílio da empresa Flowins, da Novo Agro Ventures, e criou uma marca de café torrado que recebeu o pai de Cláudio, Juca Pinto, que faleceu há um ano e meio. Segundo o produtor e o filho, o Café do Juka é uma homenagem merecida.
“Meu pai era o mais velho de oito irmãos e sempre trabalhou muito, desde criança. Saiu da roça para trabalhar com metalurgia, mas assim que se casou voltou para o campo porque era o que ele mais gostava, contou Cláudio.
Ele disse ainda que o pai plantava café desde a década de 70, mas também tinha outras atividades agrícolas como a suinocultura. Agora, com e a ideia é continuar esse trabalho na cafeicultura focando na qualidade e na sustentabilidade do negócio.
"Era um sonho, mas meu pai não se preocupava muito com os custos. Depois de formado comecei a ajudar na gestão e, hoje, o NCR traz essa possibilidade de ser autossustentável, social, ambiental e economicamente”, disse Cláudio Renato
Para o jovem João Pedro, de 19 anos, “o NCR abriu as portas para a gente iniciar esse sonho e honrar a memória, a história e o nome do meu avô”. Trabalhar com café especial na propriedade da família o motivou a querer continuar no campo.
“O café especial é diferente, tem outro nicho de mercado. Assim que terminei o ensino médio comecei com o meu pai na fazenda e muitas pessoas perguntam se não vou estudar, eu sempre respondo que já estou estudando o café”. O jovem estudioso agora está participando de mais um programa especial do Sistema Faemg Senar, o Gestão com Qualidade em Campo (GQC). Assim como no NCR, o pai também está fazendo o treinamento.
Sucesso
O Café do Juka já começou com excelência, ganhando três prêmios no concurso de qualidade do café de São Miguel do Anta. O produto ficou na primeira e terceira colocações na categoria natural e em terceiro lugar na categoria cereja descascado.
“A altitude na fazenda só chega a 700 ou 750 metros, mas isso não nos impediu de produzir grande quantidade de cafés avaliados com mais de 80 pontos. Esse é o nosso primeiro ano e esperamos trabalhar para estar ainda melhores no próximo”.
O café tem nuances de frutas amarelas, mel, cana e chocolate branco e o sabor e a história do produto conquistaram o público! Em 20 dias a família já comercializou duas das cinco sacas separadas para o novo empreendimento.
“Ficamos felizes e surpresos com a ótima aceitação. Temos recebidos depoimentos positivos e isso é o mais importante, ver as pessoas gostando e poder oferecer a elas um café de qualidade com um preço acessível”, pontuou Cláudio Renato.
As vendas acontecem pelo Instagram (https://www.instagram.com/fazendajucapinto/) e Whatsapp em embalagens de 80, 250 e 500g. João Pedro contou que o perfil também é um espaço para contar a história do avô. “Queremos que o café mantenha viva a memória do meu avô para quem o conheceu, e que quem não conheceu possa saber do seu legado”, disse o jovem.
Para o futuro
A família está se preparando para a certificação da propriedade e articulando com o Sindicato do Produtores Rurais de Viçosa a realização de cursos para os funcionários da fazenda. Também está nos planos da família trazer as mulheres da casa, a mãe Terezinha Milagres e a filha Clara Milagres, para atuarem no negócio dos cafés especiais. “Estamos buscando capacitação para dar continuidade e consistência ao trabalho de todos nós e ter a força feminina vai agregar ainda mais valor”, comentou Cláudio Renato.
Terra do Junka
A fazenda Juca Pinto fica na comunidade Capivara das Coelhas. Na localidade a família é conhecida pelo trabalho e pela preocupação com o coletivo. A escola local leva o nome do avô de Cláudio Renato, José de Assis Pinto, que doou o terreno para a construção da instituição.
“Ele e minha avó eram analfabetos e fizeram questão de doar a terra. Além disso, ele buscava os professores todos os dias, num carro de boi, e oferecia alimentação para todos”, contou Cláudio Renato, orgulhoso e emocionado.
Em um ato semelhante ao do avô, Cláudio Renato e a família doaram a sede da fazenda onde é produzido o Café do Juca para uma associação. A casa, construída em 1956, agora é a Terra do Junka.
Segundo o produtor, o nome é uma analogia à Terra do Nunca da história de Peter Pan. “É um espaço coletivo, do bem, para que as pessoas sejam e desenvolvam o melhor de si. Também vamos desenvolver ações de cuidado com a natureza e com as pessoas”. A doação aconteceu há três anos e o senhor Juca Pinto esteve na inauguração.
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