domingo, 22 de novembro de 2020

Obra do Cura em BH enfrenta embate judicial e corre risco de ser apagada

Morador do edifício Chiquito Lopes, localizado no centro da capital, entrou com ação na Justiça pedindo que a pintura fosse apagada; Abaixo assinado foi criado para impedir que isso ocorra

O Circuito Urbano de Arte (Cura) deu início a um abaixo assinado nesta semana para impedir que o mural que dá vida e cor a uma das laterais do edifício Chiquito Lopes, localizado na rua São Paulo, no centro de Belo Horizonte, seja apagado. A obra  que ocupa 1.365 m² foi feita em 2018 pela artista mineira Criola e agora enfrenta um embate judicial, após um dos moradores do prédio, insatisfeito com o desenho, pedir na Justiça que a obra fosse apagada. 


De acordo com o Cura, na época da idealização do desenho todos os passos foram seguidos rigorosamente e o síndico do prédio chegou a levar a questão para o Conselho Consultivo do Condomínio, onde a pintura foi aprovada. Apenas um morador havia se manifestado contra a decisão. 

“Foi, então, convocada uma Assembleia Geral Extraordinária que confirmou a decisão pela realização da pintura, em que estiveram presentes 55 condôminos, tendo todos votado a favor, exceto o tal morador que, na sequência, entrou com uma ação pedindo judicialmente o apagamento da obra”, traz o comunicado do Cura nas redes sociais. 


A obra é intitulada de “Híbrida Ancestral- Guardiã Brasileira” e traz a figura de uma mulher negra com uma cobra e sobre uma das mão há o desenho de um útero. Na nota divulgada, o Cura destaca que o morador é branco e que a ação dele pode ser interpretada como um ato de racismo estrutural. Na ação judicial, o morador se baseou em um Lei criada ainda no regime militar.


“Não é por acaso que o autor da ação utiliza uma lei do regime militar (Lei nº 4591/1964), já superada pelo Código Civil de 2002, para sustentar que a realização da obra precisaria da aprovação unânime de todos os condôminos”, pontua o comunicado do Cura.


As advogadas do Coletivo Margarida Alves entraram no processo para defender que o desenho não seja apagado. Segundo o Cura, a assessoria jurídica já apresentou no processo “as razões de fato e de direito pelas quais o CURA entende que o processo deve ser julgado totalmente improcedente, preservando-se a re-existência da obra Hibrida Ancestral da Criola, um símbolo de luta do povo frodescendente brasileiro”.


A reportagem tentou contato com a administração do edifício, mas até o momento não obteve sucesso. Até às 15h30 deste sábado, 4.871 pessoas já haviam registrado apoio ao abaixo assinado que pode ser acessado aqui.


Clique aqui e veja o comunicado do Cura na íntegra.


Criola

A artista mineira Criola que deu vida à obra Híbrida Ancestral- Guardiã Brasileira pintada na lateral do edifício Chiquito Lopes se pronunciou nas redes sócias sobre a possibilidade da pintura ser apagada. A artista que já fez pinturas em São Paulo e em Paris, na França afirmou que o país está vivendo tempos sombrios. 


“Vivemos tempos sombrios. Vim compartilhar com vocês que esse mural que pintei no Cura corre sério risco de ser apagado, com uma lei da época da ditadura, por um morador branco e racista. Compartilhem esse post nas redes de vocês, porque o algoritmo não favorece quem tem a nossa cor”, pediu a artista.


O prédio 


Localizado na rua São Paulo, na região centro-sul de Belo Horizonte, o Edifício Chiquito Lopes já funcionou como um prédio comercial. Após a  aquisição por uma construtora, o edifício foi transformado em residencial. O prédio possui 14 andares e 167 apartamentos. 


 

Fonte Jornal O TEMPO


Nota


Nossos registros dessa obra. Por nossa passagem recente por BH.

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